Ontem ao final da tarde fui ao centro de Bacabal procurar um
carregador de celular. Certamente não encontrei, pois o comércio bacabalense não
funciona nesse horário, tempo incluído naquele destinado à manutenção da força
de trabalho, onde o capitalismo ainda não se expressa plenamente em suas mais
modernas tecnologias de exploração, como os shoppings, onde seguramente teria
encontrado o que procurava, mesmo sendo sábado à tarde.
Em minha caminhada passei em frente ao Salão Santo Antonio,
que se encontrava aberto. Afinal, a vida segue e vida é trabalho, mesmo já sendo
início da noite de sábado. Salão à moda antiga com uma cadeira Ferrante e
barbeiro de cabelos grisalhos, encerrando o corte de seu último cliente.
Na verdade, cortar o cabelo não estava nos meus planos. Mas,
quase que por impulso, ou pra não perder a viagem, entrei. Pensei: aparar as
pontas, mas só um pouco; rebaixar um pouco nas laterais e atrás e fazer o pé do
cabelo.
Para minha surpresa, o barbeiro era surdo. Percebi que se
comunicava em Libras, o que não adiantava muito, pois o máximo que consegui no
meu mais completo analfabetismo, foi fazer essa constatação. Restou-nos a
mímica como alternativa comum de
expressão, com vantagem pra ele, já experimentado também nessa forma de comunicação.
Assim, com gestos desajeitados, eu tentava dizer aquilo
tudo: aparar as pontas, mas só um pouco; rebaixar um pouco nas laterais e atrás
e fazer o pé do cabelo... Acho que ele compreendeu. Mas, não considerava
possível a tarefa. Se entendi correto, ele deveria estar dizendo: “não dá pra
aparar as pontas só um pouco; seu cabelo só tem pontas”.
Além da desvantagem em relação à comunicação, lembrei das
vezes em que tenho me aventurado em aparar eu mesmo só as pontinhas (com a
ajuda de minha já falecida mãe). Vi que estava em desvantagem, também, em
relação à capacidade de avaliação da viabilidade do serviço solicitado.
Relaxei e deixei por conta do barbeiro...
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