domingo, 17 de março de 2019

O Barbeiro Surdo e o Falante Analfabeto






Ontem ao final da tarde fui ao centro de Bacabal procurar um carregador de celular. Certamente não encontrei, pois o comércio bacabalense não funciona nesse horário, tempo incluído naquele destinado à manutenção da força de trabalho, onde o capitalismo ainda não se expressa plenamente em suas mais modernas tecnologias de exploração, como os shoppings, onde seguramente teria encontrado o que procurava, mesmo sendo sábado à tarde.

Em minha caminhada passei em frente ao Salão Santo Antonio, que se encontrava aberto. Afinal, a vida segue e vida é trabalho, mesmo já sendo início da noite de sábado. Salão à moda antiga com uma cadeira Ferrante e barbeiro de cabelos grisalhos, encerrando o corte de seu último cliente.

Na verdade, cortar o cabelo não estava nos meus planos. Mas, quase que por impulso, ou pra não perder a viagem, entrei. Pensei: aparar as pontas, mas só um pouco; rebaixar um pouco nas laterais e atrás e fazer o pé do cabelo.

Para minha surpresa, o barbeiro era surdo. Percebi que se comunicava em Libras, o que não adiantava muito, pois o máximo que consegui no meu mais completo analfabetismo, foi fazer essa constatação. Restou-nos a mímica como alternativa  comum de expressão, com vantagem pra ele, já experimentado também nessa forma de comunicação.

Assim, com gestos desajeitados, eu tentava dizer aquilo tudo: aparar as pontas, mas só um pouco; rebaixar um pouco nas laterais e atrás e fazer o pé do cabelo... Acho que ele compreendeu. Mas, não considerava possível a tarefa. Se entendi correto, ele deveria estar dizendo: “não dá pra aparar as pontas só um pouco; seu cabelo só tem pontas”.

Além da desvantagem em relação à comunicação, lembrei das vezes em que tenho me aventurado em aparar eu mesmo só as pontinhas (com a ajuda de minha já falecida mãe). Vi que estava em desvantagem, também, em relação à capacidade de avaliação da viabilidade do serviço solicitado.

Relaxei e deixei por conta do barbeiro...





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