terça-feira, 18 de janeiro de 2022

A cor e o verso

Esse verso cor de pele
Que com as palavras peleja
Escrito na noite escura
Preta que nem sua dor
Nessa folha tão branquinha
Que faz parecer o céu

Se não fosse de papel
E se não fosse tão retinta
A pena que rasga o véu

Poema de amor seria
E conflito não haveria
Entre a tinta e o papel.


Esse versinho sem cor
Não sabe da dor uma linha
Do que guardam os griôs

Suas falsas rimas de amor
Entre o papel e a tinta
Escondem nas entrelinhas
Tingidas de rubra cor
Por séculos de tirania
O que a chibata arrancou.

Nós vamos é tocar tambor
Esquentar o nosso frio
Botar fogo no pavio
E reescrever a história

Com as tintas do arco-íris
Chamegar, fazer amor
Versejar em furta-cor
Na quizomba da vitória.

Paulo Roberto, 18/01/2022

domingo, 16 de maio de 2021

Ensinar, aprender, transformar

O ofício dos ofícios, por muitos, desprestigiado;
Forma médico, engenheiro, político e advogado.
Em nosso mundo moderno, com sua complexidade,
O mais ilustre doutor não teria o seu valor,
Se dispensasse o trabalho do humilde professor.

E para além dos ofícios que demandam dos ensinos,

Que se passam na escola, desde a mais tenra idade;
É lá aonde se aprende um importante conhecimento,

Que explica os fundamentos e os rumos da sociedade.

Até mesmo a felicidade do ser humano moderno

Pode encontrar nos cadernos as suas primeiras linhas.
Em cada lição de amor aprendida ali na sala;

Na aula de solidariedade, de respeito e empatia;

Nas rodas da alegria espalhadas em cada canto;

Na rotina sem descanso, na lida do dia a dia.

Ensinar e aprender;

Aprender ao ensinar;

Ensinar para aprender;

Aprender pra transformar!


Mas parece que a escola padece de um encante...

E o trabalho faz-se pranto. E o estudo faz-se dor.

E o professor alienado, explorado, desvalido,

Um mero repetidor de uma lição sem sentido,

Que já não encontra ouvidos num público expectador.

Reféns de nefasta ordem que assola a sociedade,
Quem ensina já nem sabe do saber o seu sentido;
Quem aprende não confere ao ensino seu valor.
Lições de um mundo caduco, sem futuro, desolado;
De um ser desumanizado, num mundo empadecido...

É tempo de desencante, cobrar do homem a razão;
Resgatar a autonomia rumo à emancipação,

De cada trabalhador.

 

Ser sujeito criador, transformador da história.

Jogar duro, até a vitória, no papel de educador,

Ensinador de utopias, semeador de esperanças...
Educar cada criança na plena cidadania,

Pra ver raiar um novo dia de fraternidade e amor.


Ensinar e aprender;

Aprender ao ensinar;

Ensinar para aprender;

Aprender pra transformar!

 

 

Paulo Roberto, 15/07/2019

 

quinta-feira, 30 de maio de 2019

domingo, 19 de maio de 2019

terça-feira, 14 de maio de 2019

domingo, 7 de abril de 2019

De uma noite mística


Quem não esquece suasraízes e compreende onde está,
Sabe muito bem quem somos
E o que aqui viemos buscar.

Somos igara nessas águas
Somos a seiva dessas matas
E o ruflar das asas de um beija-flor.

Aqui viemos ocupar o que, por direito, é nosso.
Viemos estudar. Estudar muito!
Buscar o conhecimento.

Para compreender melhor esse mundo,
Nosso mundo.
Para transformá-lo num mundo melhor.
Melhor para todos e todas!

Jabuti sabe ler, não sabe escrever
Ele trepa no pau e não sabe descer

Jabuti quer saber ler, escrever, trepar, descer
Fazer e acontecer...

É por isso que aqui estamos.
E não nos esquecemos de onde viemos:
Viemos da terra, da luta, da luta pela terra.
E, por isso, resistimos!

Resistimos no aboio da menina vaqueira,
Na toada arrastada de quem anda devagar
Porque já não tem pressa, nem arreda.

E quem quiser vir que venha!

Ô, lelê, chapéu de lenha
Quem não pode não emprenha.

Viemos buscar,
Mas, também, deixar a nossa marca.

E encher esse canto com o nosso canto:
O nosso aboio,
A dança indígena,
O cacuriá,
O tambor de crioula,
Nossa mística
E muita festa!

E, assim, pintar a Universidade de povo!

quarta-feira, 27 de março de 2019

Todos somos iguais perante a Deus


Todos somos iguais perante a Deus. 

Todos quem? Perante a qual Deus?
Zeus, Tupã, Olodumaré, Cristo, Alláh, Jeovah, Brahma, Shiva...?

As diversas religiões do mundo, dentre as quais o cristianismo em suas variações católica, ortodoxa e protestante é apenas uma delas, cultuam diferentes deuses, a partir de diferentes códigos sagrados constituídos historicamente.
Serão todos esses deuses um único Deus?

Para a maioria delas, Deus é um só: o seu! A verdade uma só: a sua! Revelada por seu deus em seus códigos sagrados (a Bíblia dos cristãos, o Torá dos judeus, o Alcorão dos mulçumanos, o Mahabharata dos hindus...),  que precisa ser levada a todos os povos, os outros, os infiéis que precisam ser convertidos à minha verdade (ou exterminados).

A história é testemunha de que essa relação entre o fiel (na sua fé) e o infiel (todos os outros que não compartilham a minha fé) tem sido marcada pela intolerância, violência e extermínio em nome de algum deus. Foi assim no passado e é assim no presente.

No Brasil, o encontro dos povos e seus deuses, o deus dos invasores europeus (Jesus Cristo), os deuses dos povos originários exterminados (Tupã, Akuanduba, Wanadi...) e os deuses dos povos africanos seqüestrados em seus países e aqui escravizados (Ogum, Xangô, Olodumaré...), não foi um encontro de iguais em torno de um mesmo deus e que pacificamente formaram esse povo lindo miscigenado, com um rico sincretismo religioso.

Somos o resultado da violência do macho, branco, europeu, cristão que ainda hoje destrói os terreiros e acusa os povos negros de cultuarem demônios; que extermina as matas, templos sagrados dos poucos povos indígenas que restam, tomando sua fé por feitiçaria... E impõe sua força, sua cultura, seu deus e sua verdade.

Deus acima de tudo!
“... e a verdade vos libertará” (Jo, 8:32)