quinta-feira, 30 de maio de 2019

domingo, 19 de maio de 2019

terça-feira, 14 de maio de 2019

domingo, 7 de abril de 2019

De uma noite mística


Quem não esquece suasraízes e compreende onde está,
Sabe muito bem quem somos
E o que aqui viemos buscar.

Somos igara nessas águas
Somos a seiva dessas matas
E o ruflar das asas de um beija-flor.

Aqui viemos ocupar o que, por direito, é nosso.
Viemos estudar. Estudar muito!
Buscar o conhecimento.

Para compreender melhor esse mundo,
Nosso mundo.
Para transformá-lo num mundo melhor.
Melhor para todos e todas!

Jabuti sabe ler, não sabe escrever
Ele trepa no pau e não sabe descer

Jabuti quer saber ler, escrever, trepar, descer
Fazer e acontecer...

É por isso que aqui estamos.
E não nos esquecemos de onde viemos:
Viemos da terra, da luta, da luta pela terra.
E, por isso, resistimos!

Resistimos no aboio da menina vaqueira,
Na toada arrastada de quem anda devagar
Porque já não tem pressa, nem arreda.

E quem quiser vir que venha!

Ô, lelê, chapéu de lenha
Quem não pode não emprenha.

Viemos buscar,
Mas, também, deixar a nossa marca.

E encher esse canto com o nosso canto:
O nosso aboio,
A dança indígena,
O cacuriá,
O tambor de crioula,
Nossa mística
E muita festa!

E, assim, pintar a Universidade de povo!

quarta-feira, 27 de março de 2019

Todos somos iguais perante a Deus


Todos somos iguais perante a Deus. 

Todos quem? Perante a qual Deus?
Zeus, Tupã, Olodumaré, Cristo, Alláh, Jeovah, Brahma, Shiva...?

As diversas religiões do mundo, dentre as quais o cristianismo em suas variações católica, ortodoxa e protestante é apenas uma delas, cultuam diferentes deuses, a partir de diferentes códigos sagrados constituídos historicamente.
Serão todos esses deuses um único Deus?

Para a maioria delas, Deus é um só: o seu! A verdade uma só: a sua! Revelada por seu deus em seus códigos sagrados (a Bíblia dos cristãos, o Torá dos judeus, o Alcorão dos mulçumanos, o Mahabharata dos hindus...),  que precisa ser levada a todos os povos, os outros, os infiéis que precisam ser convertidos à minha verdade (ou exterminados).

A história é testemunha de que essa relação entre o fiel (na sua fé) e o infiel (todos os outros que não compartilham a minha fé) tem sido marcada pela intolerância, violência e extermínio em nome de algum deus. Foi assim no passado e é assim no presente.

No Brasil, o encontro dos povos e seus deuses, o deus dos invasores europeus (Jesus Cristo), os deuses dos povos originários exterminados (Tupã, Akuanduba, Wanadi...) e os deuses dos povos africanos seqüestrados em seus países e aqui escravizados (Ogum, Xangô, Olodumaré...), não foi um encontro de iguais em torno de um mesmo deus e que pacificamente formaram esse povo lindo miscigenado, com um rico sincretismo religioso.

Somos o resultado da violência do macho, branco, europeu, cristão que ainda hoje destrói os terreiros e acusa os povos negros de cultuarem demônios; que extermina as matas, templos sagrados dos poucos povos indígenas que restam, tomando sua fé por feitiçaria... E impõe sua força, sua cultura, seu deus e sua verdade.

Deus acima de tudo!
“... e a verdade vos libertará” (Jo, 8:32)

domingo, 17 de março de 2019

O Barbeiro Surdo e o Falante Analfabeto






Ontem ao final da tarde fui ao centro de Bacabal procurar um carregador de celular. Certamente não encontrei, pois o comércio bacabalense não funciona nesse horário, tempo incluído naquele destinado à manutenção da força de trabalho, onde o capitalismo ainda não se expressa plenamente em suas mais modernas tecnologias de exploração, como os shoppings, onde seguramente teria encontrado o que procurava, mesmo sendo sábado à tarde.

Em minha caminhada passei em frente ao Salão Santo Antonio, que se encontrava aberto. Afinal, a vida segue e vida é trabalho, mesmo já sendo início da noite de sábado. Salão à moda antiga com uma cadeira Ferrante e barbeiro de cabelos grisalhos, encerrando o corte de seu último cliente.

Na verdade, cortar o cabelo não estava nos meus planos. Mas, quase que por impulso, ou pra não perder a viagem, entrei. Pensei: aparar as pontas, mas só um pouco; rebaixar um pouco nas laterais e atrás e fazer o pé do cabelo.

Para minha surpresa, o barbeiro era surdo. Percebi que se comunicava em Libras, o que não adiantava muito, pois o máximo que consegui no meu mais completo analfabetismo, foi fazer essa constatação. Restou-nos a mímica como alternativa  comum de expressão, com vantagem pra ele, já experimentado também nessa forma de comunicação.

Assim, com gestos desajeitados, eu tentava dizer aquilo tudo: aparar as pontas, mas só um pouco; rebaixar um pouco nas laterais e atrás e fazer o pé do cabelo... Acho que ele compreendeu. Mas, não considerava possível a tarefa. Se entendi correto, ele deveria estar dizendo: “não dá pra aparar as pontas só um pouco; seu cabelo só tem pontas”.

Além da desvantagem em relação à comunicação, lembrei das vezes em que tenho me aventurado em aparar eu mesmo só as pontinhas (com a ajuda de minha já falecida mãe). Vi que estava em desvantagem, também, em relação à capacidade de avaliação da viabilidade do serviço solicitado.

Relaxei e deixei por conta do barbeiro...