quinta-feira, 20 de março de 2014

O Menino

Era uma vez um menino...

O menino não tinha nome.
Tinha poucos brinquedos,
Muitos irmãos
E uma mãe.
Pai, ele tinha só um pouco.

A casa do menino era pequena;
Mas a família era grande.
Grande também era a fome;
Mas a comida era pouca.

O menino passava mais tempo na rua.
Brincava muito.
Se danava mesmo.
E brigava, de porrada!
- Quando crescer, quero ser policial! Ter uma casa, uma família e ajudar minha mãe...
Dizia o menino.

Os brinquedos do menino eram poucos;
A casa do menino era pequena;
A família do menino era grande;
A comida do menino era pouca;
A fome do menino era grande;
Os sonhos do menino eram muitos!
O menino era feliz!

Às vezes, a mãe do menino batia nele...
Tinha vez que merecia mesmo;
Mas tinha vez que não.
- Dava uma raiva danada!

Todo dia o menino ia pra escola.
Gostava da escola;
Mas não gostava de estudar, não.
Gostava mesmo era da merenda;
Da galera;
E das gatas.

O menino estava crescendo;
Mas não sabia ler nem escrever, ainda...
De vez em quando passava de ano;
Mas aprendia só um pouco.
Gostava de copiar; mas só de h.

O menino era bom de bola.
Se garantia!
“O que eu queria mesmo era ser jogador de futebol. Jogador, ou policial...”
Pensava o menino.

O tempo tava passando;
Mas o menino nem ligava.
Não tava nem aí;
Curtia mesmo!
Saía com a galera,
Pegava umas gatas,
Batia um racha...

De vez em quando rolava umas frias;
Quando algum chegado fazia a fé.
Fumava e cheirava também, mas só às vezes,
Pra curtir.
- A hora que quiser parar eu paro, ta ligado?!
Dizia o menino.

O menino cresceu;
Nem se tocou...
Só que agora a polícia vivia dando baculeijo.
De vez em quando, a mãe do menino chamava ele de vagabundo.
- É a maior onda prá soltar o real...

O menino não tinha profissão;
Não sabia ler, nem escrever (só um pouco);
Não sabia onde procurar emprego;
Não tinha os documentos;
E, muitas vezes, nem tinha dinheiro pra passagem.
- Ficar só pedindo à coroa é foda!

Às vezes aparecia serviço de servente...
“Se, pelo menos, fosse de porteiro ou vigia...
Trabalho de peão é dureza.
Ta certo que o importante é ganhar honestamente;
Mas, servente é a maior sujeira; dá pra mim não.”
Pensava o menino.

- Futuro?
- Não gosto de pensar nisso não;
- O futuro a Deus pertence.
- O que importa é o presente.
- Tenho futuro não...

Dizia o menino...

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